Ensino a distância

Terça, 19 Abril 2016

Ensino a distância cresce sob supervisão

Em 4 anos, número de matrículas sobe 563%; MEC fecha 5.613 polos
Modalidade regulamentada em 1996 -ao ser incluída na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional-, o ensino a distância atrai cada vez mais estudantes. Especialmente os que valorizam o tempo economizado em deslocamentos e a flexibilidade para encaixar estudos no tempo livre.

Os cursos que mais atraem alunos são os livres (1 milhão em 2008), os de graduação (761 mil) e os de especialização (315 mil). No ensino superior, somam 13% das matrículas.

Segundo o MEC (Ministério da Educação), quem faz graduação a distância trabalha em tempo integral (61%) e completou o ensino médio em escola pública (67%).

Essa crescente popularidade permite a instituições de ensino ampliar o número de vagas sem significativo investimento na infraestrutura e oferecer cursos que custam 40% menos do que os presenciais.

"Com o crescimento, houve movimento predatório de competitividade na mensalidade", observa Carlos Eduardo Bielschowsky, secretário de educação a distância do MEC.

"Infelizmente há guerra econômica. Mas que tipo de apostila essa instituição [com preços muito reduzidos] irá preparar? Qual será a preparação do tutor que estará no polo?", questiona Fredric Litto, presidente da Abed (Associação Brasileira de Educação a Distância).

Para controlar a qualidade, o MEC -que credencia instituições que têm graduação e pós lato sensu a distância- supervisiona cursos e polos de apoio.

Desde 2008, 5.613 polos já foram fechados. Parte das instituições repassava a terceiros a responsabilidade pelo polo, o que é proibido por lei.

Com o controle, o crescimento desacelerou. Em 2009, o número de matrículas aumentou 7%, frente à porcentagem nunca inferior a 80% registrada nos quatro anos anteriores.

Fronteiras

O ensino a distância propõe um desafio. "Não é mais o professor ensinando, mas o aluno aprendendo", comenta Otacília da Paz Pereira, coordenadora do núcleo de tecnologias educacionais do Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial).

Mas a novidade ainda causa suspeição. Para Bielschowsky, a fragilidade do modelo está na superficialidade do material didático e da avaliação em algumas instituições.

"O receio tem diminuído à medida que universidades públicas passaram a adotar esse sistema, pois têm nome e peso no mercado", afirma Litto.

Boa parte dessa expansão ocorreu na rede pública: 38,3% dos alunos de graduação se matricularam em instituições públicas em 2008 -elas reúnem 33,5% dos alunos do modo presencial.
(Cristiane Capuchinho)

Diploma renomado reduz desconfiança do mercado

Mais velho e trabalhando em tempo integral, o aluno de graduação a distância faz o curso para melhorar sua empregabilidade. Só que pode esbarrar na desconfiança do entrevistador.

Para Fábia Barros, consultora de recursos humanos do Grupo Foco, o mercado tem resistências por não conhecer bem a modalidade. Para Gisele Andriotti, consultora da Ricardo Xavier Recursos Humanos, isso ocorre devido à descrença na avaliação das instituições.

O Ministério da Educação fiscaliza cerca de 80% delas. Em fevereiro, vetou vestibulares em 108 polos irregulares, que atenderiam a 10 mil alunos. Se ele chancela a escola, é ilegal discriminar o diploma.

Por isso a Justiça Federal obrigou, no mês passado, o Conselho Federal de Biologia a conceder registros profissionais a graduados a distância, vetados desde 2008 por questionamento sobre o método e a eficácia do curso.

"É uma questão cultural. Ainda não há muita gente no mercado para reverter essa situação", avalia Carlos Bielschowsky, secretário de educação a distância do MEC.

Seleção

Para Bielschowsky, a desconfiança deve ser amenizada com a oferta de graduação a distância na USP (Universidade de São Paulo), na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e na Unesp (Universidade Estadual Paulista). Todas estão no programa Universidade Virtual do Estado de São Paulo.

A primeira aula foi no último dia 1º, para alunos de pedagogia da Unesp. A USP terá cursos de ciências e de pedagogia, e a Unicamp avalia propostas.

Para conseguir um bom emprego, é preciso aliar escolas reconhecidas a desenvoltura na entrevista. "Boas instituições geralmente formam bons profissionais. A avaliação leva em conta a seriedade dos estudos, e não a modalidade de ensino", diz Constantino Carvalho, diretor de educação da Catho.

"Se o candidato se comporta de forma atrativa, tem muita chance de ser contratado, pois não importa só vasto currículo acadêmico", completa Barros.

Quem fez curso a distância também pode se destacar mostrando ser organizado com tempo e prazos e ter maior contato com novas tecnologias. "No curso on-line, exige-se muito a participação do aluno. Na sala de aula, às vezes ele passa anônimo", diz Carvalho.
(Bruna Borges)

Expansão de cursos chega a 52% em um ano, diz Abed

Como a correria do escritório turbina o interesse de profissionais por cursos de pós-graduação a distância, as escolas aceleram para atendê-lo.

Em 2008, 158 foram lançados, em instituições públicas e privadas -52% mais do que os 104 do ano anterior, segundo a Abed (Associação Brasileira de Educação a Distância).

"Se não há essa oferta, eles não têm como frequentar cursos. As instituições amadureceram em saber ofertá-los", diz Waldomiro Loyolla, presidente do conselho científico da Abed.

A demanda fez o Ibmec Online abrir, no ano passado, dois programas. Antes, o foco eram cursos fechados para empresas, diz Carlos Longo, diretor de ensino a distância da instituição.

A economia de tempo, porém, nem sempre se traduz na de dinheiro. No Ibmec Online, por exemplo, um MBA custa R$ 16 mil, contra R$ 21 mil do presencial. Como há 16 encontros "ao vivo", quem mora fora de São Paulo deve calcular custos de deslocamento.

Reinaldo Nogueira, coordenador do curso de pós a distância em gestão de empresas da Universidade Anhembi Morumbi, diz que a maior procura é de brasileiros que moram no exterior ou que viajam muito.

É o caso de Marcelo Bonato, 40. Formado em ciências contábeis, ele trabalha com vendas na indústria e procurava um curso voltado a essa área.

Como as viagens constantes a trabalho o impediam de frequentar salas de aula, ele fez pós em gestão depois de uma graduação de curta duração a distância em planejamento de marketing e vendas na Anhembi Morumbi. "Exige até mais do que o presencial. O aluno precisa se organizar para acompanhar o conteúdo e ler muito."

Sem trânsito

Patricia Silvestre, 34, resolveu fazer pós em gestão de negócios na Fundação Getulio Vargas porque morava e trabalhava em Valinhos (a 85 quilômetros de São Paulo) e não queria depender do clima e do trânsito para chegar à capital.

Universidade Federal de São João del-Rei